quinta-feira, 23 de julho de 2015

O TEMPO NÃO PARA

E a memória de tudo desmanchará suas dunas desertas, e em navios novos homens eternos navegarão. (Cecília Meireles)


Antigamente ouvíamos as pessoas dizendo que ficavam até cansadas com tanto tempo disponível, elas não tinham muitas coisas a fazer, geralmente despertavam muito cedo, faziam suas tarefas diárias, almoçavam e jantavam em família e dormiam quase sempre logo ao anoitecer.
Hoje, o que ouço é o contrário, o tempo não é suficiente para realizar todas as atividades diárias, permanecemos por horas no trabalho, depois nos transportes públicos insuficientes para atender a população cada vez mais agitada e estressada, quando chegamos em casa nos desdobramos em deixar tudo organizado para atender à família, dormimos com aquela sensação que deixamos alguma coisa por fazer, com a sensação de que a vida está escorrendo por nossas mãos, e não sabemos o que fazer para frear esse carro enlouquecido que chamamos de tempo.
Uma coisa é certa, o tempo não passa igual para todo mundo. E também não passa da mesma forma todos os dias.
Quando estou feliz, entusiasmada com algo, satisfeita saboreando o momento sinto que o tempo voa, me parece que é como as asas de um beija-flor que velozmente se move e eu não consigo controlar a sensação de que poderia ter durado muito mais, mas infelizmente não dura, ele é algo que sei que devo saborear o mais rápido possível, antes que acabe e não me pertença mais.
Você já sentiu isso alguma vez? Eu já senti muitas vezes.
O contrário também acontece... Ano passado, por exemplo, por muitas vezes me vi em situações extremas de tristeza que duraram muito mais tempo que eu quisesse suportar, muitas vezes essas situações que nos afligem duram um tempo cronológico e psicológico insuportáveis, pois ao contrário do bater das asas esse tempo é como aquele conta gotas que temos em casa e que sabemos que de dentro daquele frasco o que sai é um remédio amargo e que devemos digerir pouco a pouco. Felizmente esses momentos, para nós intermináveis, também não duram para sempre.
Os dois tempos, podem estar gravados na nossa memória, a pergunta é:
Quanto tempo mais você vai permitir que essas histórias que já passaram permaneçam em você?
Assim como dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço, o passado e o presente também não.
Relembrar é muito saudável, ver fotos, vídeos de momentos que fizeram parte das nossas vidas, curto muito isso também. Só não dá para tentar uma reprise o tempo todo. Estou trabalhando incansavelmente nisso e garanto que ganhei muito mais tempo que perdi.
Hoje, tento construir novas coisas, aprender novas formas de passar o tempo. Entrar por exemplo num curso de canto... E um professor me garantiu que todo mundo pode sim conseguir cantar, que existem técnicas para isso, que não é apenas um dom e sim perseverança. Eu acreditei feliz, claro.
E no amor? Ah... A regra é a mesma, quando estamos com alguém que amamos, os ponteiros dos minutos se movem como segundos, e a gente pensa que o tal do tempo nem colabora com a nossa felicidade.
Como driblar isso? 
Acredito que só há uma forma... Organizar as tarefas, delimitar o uso na internet, reservar uns três dias para atividades físicas, tempo para leitura, aulas de canto, igreja, até tempo para o animal de estimação deve ser reservado, pois eles sentem muito nossa falta. Uma vez por semana organizar suas coisas, para não passar minutos preciosos procurando algo perdido nos armários. E algo também muito importante é um tempo para estar com as pessoas que amamos.
No inicio teremos a sensação de não dar certo, mas depois com o tempo vemos o ganho nisso. Claro que, sempre haverá lugar para o imprevisto. É nele que mora a beleza da vida afinal.
Jussara Melo
Escrito em 16/02/2013

domingo, 19 de julho de 2015

O QUE TE PRENDE AO SEU PARCEIRO


No inicio tudo é tão maravilhoso! Eu já ouvi muitas vezes essa frase dita por várias mulheres e tenho que confessar que eu já a disse algumas vezes. Sabe por quê? Porque é exatamente assim que tudo começa um dia, e qual o problema em continuar sendo maravilhoso?
Manter uma mulher presa de forma voluntária não é difícil, apenas requer alguma criatividade por parte dos homens, a mesma criatividade que eles fazem uso no inicio da conquista e não sei por que razão esses seres teimosos deixam com o passar do tempo de colocar em prática.


Muitas coisas prendem uma mulher a um homem, a primeira delas claro que é o amor, o toque firme e ao mesmo tempo carinhoso, o cochicho ao pé do ouvido, o sorriso espontâneo ao vê-la chegar, o olhar cúmplice, o apoio moral e os momentos de prazer roubados em lugares públicos que passam despercebidos às outras pessoas por não conhecerem os códigos secretos que os une.

Porém, outros homens prendem as mulheres, mas nem sempre possuem de verdade tudo o que poderiam ter. Muitas mulheres vivem uma vida de aparência e infelizes, tentando a todo instante convencer a si própria que aquela situação um dia mudará. São homens egoístas que pensam apenas no seu bel prazer. Homens que não conseguem trazer de volta o frescor do inicio. Vivem sob o mesmo teto, mas não compartilham a vida, os prazeres. Cada um vive sua própria existência, os amigos não são mais comuns, não há vida social, ou seja a mulher tem em seu poder o status de casada, mas é na verdade alguém só e completamente vazia. Sua missão é interpretar o papel de esposa e chorar nas madrugadas suas dores sem que ninguém saiba.

Geralmente as mulheres fogem desse assunto, mas existe o homem que prende uma mulher simplesmente porque é tudo de bom, sim é o homem dos sonhos de toda mulher, é aquele que sabe dar o beijo mais gostoso, o abraço mais envolvente e sexualmente falando “sabe o que faz”. As mulheres, sem querer generalizar, ligam o sexo ao amor, então quando um homem satisfaz uma mulher nesse sentido a terá fiel, apaixonada, dedicada e feliz. E se além disso o homem for carinhoso, prestativo e atencioso, será o eleito para povoar o coração dessa mulher por muito, mas muito tempo mesmo.
Na verdade um homem de verdade é aquele que sabe reconhecer em sua parceira suas necessidades, a mulher que ele terá ao seu lado é reflexo do modo como é estimulada. Gostamos sim de ser paparicada, acarinhada, elogiada, respeitada, estimulada, seduzida, ouvida, tocada e retribuímos a isso quando sentimos que o nosso parceiro é verdadeiro e sincero em sua atitude.

Responder a essa pergunta: O que te prende ao seu parceiro? É algo que vai requerer de você alguma análise. Colocar numa balança as coisas boas e ruins dessa relação e ver qual o peso maior. Avaliar se está valendo a pena continuar junto é algo que deve ser praticado pelos dois regularmente a fim de melhorar os pontos que precisam de ajustes, numa conversa regada a um bom local, uma boa comida e uma boa música. Que acham?

quinta-feira, 2 de julho de 2015

039 - O que eu adoro em ti


O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza, nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida.
(Madrigal Melancólico, Manuel Bandeira)



O que eu adoro em tua natureza é tudo o que você transmite quando está normal, casual. O fato de simplesmente ser você, sem fingimentos, sem jogos, sem fantasias e mascaras, sem imitações alheias. O que eu adoro em você é essa tua natureza simplificada, vertente tua, natural e singular.
Não é o profundo instinto maternal ou paternal, não é as atribuições diárias adquiridas nesse relacionamento de anos, não é as obrigações diárias que a vida nos impôs, o que adoro em você é seu instinto amável, carinhoso, cuidadoso. Esse mesmo instinto que me levou até você sem que eu pudesse impedir.
Em teu flanco aberto como uma ferida que lastima-me e tortura-me por imaginar que talvez essas feridas tenham sido produzidas por mim. Produzidas por minhas imprudências, por minhas mentiras, por minhas promessas não cumpridas. Teu flanco que é metade meu, metade dor, metade de mim mesma.
Nem a tua pureza, nem a tua impureza de nada mais importa, não importa tais explicações, tais divagações se o mais importante não é o que parece ser e sim o que verdadeiramente você é comigo. As circunstancias puras ou impuras nos trouxeram até aqui, mas a determinação de continuarmos juntos deve ser límpida.
O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me, pois somos feridos e curados, somos companheiros e solitários, somos íntimos e estranhos, nessa ciranda que nos envolvemos e não conseguimos sair.
O que eu adoro em ti, é a vida.
Vida que traduz o amor que sinto por ti.
Jussara Melo

Escrito em 05/01/2013