segunda-feira, 5 de agosto de 2013

028 - O MORGADO

Poesia que fala sobre a perda de um filho.


Quando se pensava haver vida
Já estava ele de olhos fechados e inertes
Mas o primor continuava
Exalava ainda assim o seu perfume
E o morgado se perdia em nuvens
Não respirava o ar, não possuía mais vigor
E tenho certeza, pois o carreguei no colo
E era gélido seu contorno
E seus sonhos inerentes
De zíngaros tocando, lamentos ao vento
Não os tinha mais
E me desfiz em lágrimas, e despi meus lamentos
Meus soluços por ele em vão
E olhei seu corpo de anjo
E o cobri com manto púrpura
E então o carreguei no ventre
Como se fosse mãe, mas era ama
E acompanhei o morgado em seu último passeio
Ao seu último leito
E o deixei em mãos vazias, em mãos tão frias...
Como seu próprio corpo
E chorei ao ver partir
E partiu em um instante breve, deixando em mim
Sua infinita imagem alva, branca como o leite que bebia
Deixando em mim
A marca de seu contorno, o cheiro de neném novo
E gargalhei histérica ao entregá-lo ao céu
E corri liberta
E o esqueci depois de anos, pois não era meu
O morgado perdido e morto
Que carreguei no colo.

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