quinta-feira, 31 de março de 2011

Marjorie em "Pensamentos" texto 3

imagem retirada de: versoeprosa.ning.com


Marjorie sonhava. Não esses sonhos impossíveis que costumamos ter, seus sonhos eram reais porque ela os realizara todos.
            Ela sabia que sua força estava em seus desejos, em seus pensamentos, ela se fortalecia neles, sua mente traria o que ela quisesse.
            E Marjorie o queria.
            Passara pensando nisso por muito tempo, a idéia de tê-lo em seus braços a seduzira, a impossibilidade do momento os impedia, mas o tempo a protegera da solidão com seus pensamentos.
            No começo sua mente descansada, saboreava a realização dos seus desejos, quando gotas quentes banhavam seu corpo nu Marjorie sentia fluir em sua pele molhada o prazer desse enlace espiritual e ela se entregava a ele, mesmo que não soubesse.
            Quando sonhava adormecida, sentira seus beijos úmidos de desejo, seu suor másculo, seu perfume de homem e tinha certeza que aquelas sensações eram reais e que estivesse onde estivesse ele também a sentia.
            Desejava fazer ela também parte de seus sonhos, ele seria capaz de senti-la, beijá-la, e a tocaria, mesmo que fosse irreal. E despertaria finalmente extasiado pensando que reais seus sonhos também seriam.
            Era isso que Marjorie queria.
            Porém, o tempo que é longo a aborrece e ela desiste desse sonho, abandona a todos seus desejos, resolvera não pensar mais. Estaria agora livre, poderia ter outros sonhos, realizar outros desejos, despertar outros amores adormecidos, seus pensamentos poderiam ser agora infinitos.
            Mas ele insistira nos seus, não os abandonaria assim tão facilmente, seus desejos eram ainda mais fortes que os dela, enquanto Marjorie não mais sonhava, não mais o desejava, ele agora mais determinado os queria para si e os realizaria pelos dois.
            A verdade é que ele não quer que seus sonhos os deixem, acostumou-se com eles, faziam parte da obscura realidade que não conseguia mudar, era com esses sonhos que sobrevivera, com eles se mantivera sóbrio e agora não mais poderia ocultar seus desejos, nem para ele mesmo. Seria dono de seus pensamentos e finalmente do corpo dela.
            Faria exatamente o que Marjorie tramara em segredo, ele seria o autor dos sonhos que pertenciam a ela, os teria em suas mãos porque conhecia a todos. Ela os compartilhara em seu pensamento e agora ele também os queria.
            E não importava mais os desejos dela porque ele os possuía.

Sara Mel
31/03/2011


domingo, 27 de março de 2011

Marjorie em "Flores" texto 2

Imagem retirada de: estelaflores.com.br

Ela sempre soube como usar as pessoas, nunca o fazia por mal, mas sempre conseguia o que queria, e depois esquecia que não fizera sozinha.
            Tinha que ser hoje decidira que aproveitaria o momento, dia melhor não haveria, acabaria agora a batalha que travara durante anos sozinha, a luta entre o que era perfeito e imperfeito, o certo e o errado, a saudade e o que poderia fazer para nunca mais sentir sua ausência de novo.
            Comprou flores, que não seriam suas, seu perfume não importava, sua forma singular ela não percebeu, nem a cor carmim a fez esquecer seu objetivo, nesse momento lúgubre deveria vê-lo apenas.
            Marjorie não queria muito, não seria necessário muito tempo, ela não poderia permanecer ali diante de tanta angustia por mais que o necessário, poucos minutos bastaria, ela conhecia o poder que tinha sobre ele, e hoje ela decidira não mais poupá-lo.
            Seus passos eram retos, as pessoas a viam caminhar, carregava flores, um sinal tão terno, quem as receberia, não importava, nunca saberia que aquelas estavam sendo usada para conquistar, era a desculpa perfeita para chegar até ele, para que fosse vista.
            E Marjorie saberia como se controlar, seu coração deveria acalmar-se, ela seria como um animal quando avista sua caça... Saborosa, atraente, suculenta, desejada e ela estava faminta.
            Seu corpo deveria acalmar-se, ela sempre tivera controle sobre ele, como sempre sossegava seu coração. Caminharia lentamente, não era mais possível retroceder, queria aquele encontro, desejava vislumbrar de novo aquele olhar mesmo que melancólico e era dela aquela voz, que agora estava trêmula. E os minutos necessários serviriam ao seu propósito, no fundo estava triste, mas ele saberia disso quando a visse chegar.
            Minutos que ele não poderia mais esquecer, seus lábios se abririam, ele deveria dizer o seu nome outra vez, Marjorie, e disse. E sentiu que somente isso não bastaria, mas ela astuta, sabia que quanto menos tempo ele tivesse, menos ficaria livre, enlaçou seu pescoço, beijou suavemente a sua face, deu de ombros e partiu.
            Marjorie sorriu triste, não poderia ser diferente naquele instante, e um êxtase absurdo a invadiu, sentiu o poder daquele desejo até então adormecido, sabia que olhos a seguiam, olhos sombrios que não a poderiam ter e era exatamente o que queria.
            Marjorie deveria agora desfazer-se das flores e por última vez sentir o seu perfume, ela agora admirava cada pétala, cada forma, as flores serviram e quem as receberia jamais as veriam.  

Sara Mel
27/03/2011

 

sábado, 26 de março de 2011

Marjorie em “O acaso” texto 1

Imagem retirada de: anaguevarameirise.arteblog.com.br

Marjorie aprendera a viver assim, guardara aquele amor perfeito somente para ela, e por anos ele a protegera e o seu coração do sofrimento real. Todas as vezes que era oprimida, desafiada, magoada, era para  esse amor que fugia, era nele que se resguardava e ali permanecia. Não se sentia só, ela sabia, nunca poderia viver sem ele, desse modo era feliz.
         Ma o acaso atrapalhou tudo e a colocou de novo frente a esse amor. A principio Marjorie apenas desejou que ele viesse, falasse, tocasse. No fundo depois de tantos anos, aquele que era a razão dela própria existir estava ao seu alcance.
         A sua voz ainda era firme, os seus olhos ainda a fitavam como antigamente, sabiam como despi-la, e ela se alegrava. O seu toque fazia Marjorie estremecer, ele tinha o poder de fazê-la se sentir única, e sentiu prazer.
         Quando a boca daquele amor, guardado por anos a procurou, foi como se a traísse, e Marjorie disse não; e teve medo outra vez.
         Como poderia desistir desse amor que era tão perfeito para ela, como assumir os problemas, as dúvidas, a rotina que isso implicaria.
         Mas foi inevitável, ele não queria mais permanecer inerte, o amor não suportava mais ser tão irreal, ele queria estar com Marjorie, sentia falta de seus beijos, desejava tocá-la, queria seu corpo. E ela também o queria inevitavelmente.
         Triste momento esse, quando o amor perfeito morre. As lágrimas eram quentes, caiam sem que Marjorie pudesse evitá-las, mas a decisão havia sido tomada e ela disse adeus.
         Mas Marjorie era obstinada, e logo sentiu que poderia encontrá-lo de novo, “o amor perfeito”, que a manteria viva durante anos. O acaso também a ajudou nessa busca. Dessa vez ela não o perderia, viveria com ele para sempre.
         Esse era melhor, pois ele também compartilhava com ela as mesmas vontades e era inacessível; perfeito para ela que não desejava mais perdê-lo. E ela enfim voltou a não sentir medo, o tinha ali no mesmo lugar de sempre, sabia que não era o mesmo, sabia que era ainda novo para ela, deveria aprender a conhecê-lo melhor, mas teria tempo, muito tempo para isso.
Sara Mel
26/03/2011